segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Paixão para vencer quilômetros...Distâncias a percorrer

Portuga Tavares


É incrível como um amontoado de peças é capaz de levar tantas pessoas a descobrir o novo. Numa entrevista, um sábio conhecedor do automóvel disse: “O limite era a fazenda do vizinho!”. O carro levou o homem a mais lugares.

Essa máquina que habita a garagem e o coração começou a ser popular e reconhecido como meio de transporte há apenas cem anos, mas já é impossível imaginar a civilização sem ele. A pergunta pode ser “aonde vamos”, mas como se chegará lá é obvio: de automóvel – seja ônibus, caminhão ou carro.

Nós, seres humanos, somos eternos insatisfeitos. A meta era ser transportado com menos esforço e descobrimos uma vantagem, chegamos antes. A propaganda da Duesenberg dizia: “Atingimos uma milha por minuto” (o mesmo que 60 milhas por hora ou 96km/h). Os mais céticos se perguntavam: “Porque ir tão rápido?”, enquanto que os mais ágeis trabalharam em atingir a barreira dos 100km/h. Não demorou muito e atingimos os 200km/h.

No Brasil, um país onde tudo se transporta sobre rodas, a primeira viagem aconteceu em 1908. O ponto de partida foi à cidade do Rio de Janeiro e achegada Santos, no litoral paulista. Foram 33 dias de pura aventura que um bravo Brassier enfrentou com seu destemido motorista, o conde francês Lesdain.

Concordo que o avião também ajuda a transpor distâncias e também concordo que vários brasileiros se aventuraram nas máquinas com asas. Santos Dumont, o inventor do vôo dirigido e do avião, e João Ribeiro de Barros, o primeiro homem a atravessar o atlântico sem escalas, obviamente adoravam voar, mas também se aventuraram no mundo das quatro rodas.

O pai da aviação comprou um Peugeot em Paris e trouxe ao irmão enquanto que o Comandante Barros apaixonou-se tanto pelos motores do seu avião Jahú que comprou um automóvel da mesma marca, um Isotta Fraschini 1928. Os dois carros citados vieram para São Paulo, que no Brasil é a capital do automóvel e, conseqüentemente, do congestionamento.

Longe do caos intransitável em que se transformou a terra da garoa, os automóveis continuam seu reinado alcançando cada vez mais quilometragem em pouco tempo. Colocar um carro na estrada está entre as melhores coisas do mundo. De carro antigo melhor ainda.Conduzir uma máquina cheia de história é fascinante, ainda mais quando o destino é um encontro. Alcançar o objetivo é só parte da meta. Tão importante quanto chegar bem, é curtir a paisagem.

Um belo jeito de aproveitar o passeio e ir a comboio, fazer uma carreata, de preferência com os amigos, porque andar com quem se gosta é sempre melhor. Se no meio do caminho aparecer uma nova pessoa, deixe-a participar dessa jornada.

Hoje, em pleno século XXI, estamos cada vez mais em busca de chegar aos lugares mais distantes e no menor espaço de tempo. Agora mesmo, enquanto escrevo, me imagino na estrada a caminho de um lugar. O que estará lá não sei, tudo o que espero é não estar sozinho. Até porque andar a quilometragem da vida acompanhado é muito melhor.


Portuga Tavares é editor de textos do programa Auto Esporte da TV Globo, colaborador de diversas revistas de veículos entre elas a 4 Rodas e enfrenta todos os dias o transito caótico da cidade de São Paulo a bordo de seus carros antigos.

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