quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Divergências de informações ocasionam gasto de R$ 300,00 à família que quer garantir a vida de mãe e filho

Grávida de 7 meses, Ediel Leme da Costa Rosa, 22, está internada há mais de 10 dias em virtude de uma hipertensão ocasionada na gestação. O problema de saúde gerou a redução de liquido amniótico ocasionando a necessidade de ultrassons para verificar a saúde do bebê.

Ao saber da informação, a família de Ediel, por meio de um encaminhamento da maternidade da Santa Casa, realizou o primeiro exame no sábado (16). Entretanto, segundo a mãe da gestante, Marli da Costa Rosa, o exame precisou ser refeito dois dias depois, e como a justificativa da obstetra Karina Brugneroto, era de que não havia, naquele dia, médico para realizar o ultrassom na entidade filantrópica, o ideal seria que o mesmo fosse realizado por algum médico particular.

O exame custou à família R$ 300,00, sendo que de acordo com Marli, a família não aguardou para realizar o mesmo, uma vez que a informação passada é que o exame pelo SUS poderia demorar “um dia, dois dias ou até uma semana”.

O responsável por realizar a ultrassonografia na Santa Casa é o médico Arnaldo Nacarato, que foi quem fez o primeiro exame da jovem.

Segundo a obstetra Karina, Nacarato foi contatado por telefone, e pelo fato de estar trabalhando em Elias Fausto e o caso não ser emergencial, a vinda à Capivari não foi requisitada. “Eu queria um exame logo e o Arnaldo não podia fazer”.

A informação é contestada por Nacarato que afirma ter ficado em Capivari durante todo o dia de segunda-feira (18), inclusive realizando dois exames iguais a duas pacientes de Karina. “Eu trabalhei no consultório de manhã e a tarde na Santa Casa”.

Marli declara que não tinha dinheiro para custear o ultrassom, mas o fez, com o apoio de familiares, por julgar que a espera poderia ser longa.

Caso emergencial
Segundo a obstetra Karina Brugneroto, a gestação de Ediel é de alto risco, uma vez que a oscilação da pressão da mãe pode gerar danos à saúde do bebê, o que resultará na necessidade de um parto emergencial. “Faremos ultrassom todos os dias para saber da condição do bebê.
Caso comece haver alguma alteração teremos que fazer uma cirurgia de urgência”, pondera.

Por conta da instabilidade da situação, desde segunda-feira (18), a médica procura uma vaga para a gestação em algum hospital da região que tenha UTI neonatal. A procura se faz necessária, uma vez que em partos prematuros, os bebês precisam ser imediatamente levados a este departamento da maternidade, que não existe na Santa Casa de Capivari.

De acordo com o diretor financeiro da entidade, Celso Alves Ferreira, a Central de Vagas é regulada pela DIR de Piracicaba.De acordo com a assessoria de imprensa, o secretário de Saúde, Ermerson Oliveira, já sabia do caso na terça-feira (19), e tentava agilizar a transferência, que ocorreu no dia seguinte.

Prefeitura faz parceria com Fiec em busca de qualificação profissional


O objetivo é fornecer cursos técnicos aos profissionais eliasfaustenses, atendendo a demanda de mercado

Na segunda-feira (18), o prefeito de Elias Fausto, Cyro da Silva Maia (PT) recebeu a visita do superintendente da Fiec (Fundação Indaiatubana de Educação e Cultura), João Neto, e do prefeito de Indaiatuba, Reinaldo Nogueira (PDT), a fim de que a parceria entre as entidades fosse formalizada. A finalidade do encontro foi assinar o convênio de prestação de serviços técnicos profissionalizantes no município de Elias Fausto.Para saber de forma minuciosa a demanda de mercado do município, que determinará os cursos que serão oferecidos, a fundação educacional realizará o 1º censo industrial da cidade, o qual tanto os empresários do setor, como os do comércio e serviços, preencherão um questionário de 12 páginas que demonstrará a defasagem de mão de obra no município.

Segundo o coordenador da pesquisa e diretor de integração da Fiec, Marco Antonio Secco, a estimativa é que todas as informações sejam recolhidas e compiladas em um mês, a contar da assinatura do convênio, e posteriormente, os cursos poderão ser oferecidos. “Só teremos noção da necessidade do município depois que tivermos com estas informações em mãos. Saberemos a expectativa de demanda do mercado e supriremos essa defasagem com a profissionalização dos alunos”, explica Secco.

O coordenador de Educação de Elias Fausto, Mário César Franco, comenta que a negociação teve início em agosto do ano passado, sendo que as aulas serão oferecidas na escola Lupércio Guedes Pinto, a qual existem 11 salas disponíveis. “A expectativa é que os cursos tenham início em março, sendo que essa profissionalização contribuirá com o desenvolvimento de Elias Fausto”.

O prefeito da cidade, Cyro Maia (PT), afirmou que a expectativa é que sejam montados dos cursos de 40 alunos, sendo que o custo ao município incorrerá em R$ 16 mil por mês. “Meu sonho era exatamente fazer isso, aplicar uma pesquisa para saber o que a indústria precisa”.

Segundo o superintendente da Fiec, João Neto, o convênio ajudará muito a população de Elias Fausto que sempre procurou a instituição para se qualificar. “Somente no último vestibular tivemos 60 inscritos de Elias Fausto”.O prefeito de Indaiatuba, Reinaldo Nogueira (PDT) reitera o posicionamento de Neto e afirma acreditar que esta é a primeira de muitas parcerias que ocorrerão entre as prefeituras de Indaiatuba e Elias Fausto.

O rio que corta a minha aldeia





Luís Antônio Albiero (*)


A recente cheia do Rio Capivari me inspirou a releitura do poema “O Tejo é Mais Belo”, do livro “O Guardador de Rebanhos”, de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. Diz o poeta português que, “porque pertence a menos gente, é mais livre e maior o rio da minha aldeia”.
“Poucos sabem qual é o rio da minha aldeia, / E para onde ele vai, / E donde ele vem”. Pois eu o digo. O Rio Capivari desce de Jundiaí, corta a minha aldeia e vai servir suas águas ao Rio Tietê, engrandecendo-o. Decerto, não é o maior do mundo, nem o mais belo, mas “pertence a menos gente” e, portanto, há de ser mais livre e maior que qualquer outro.

Nestes dias de chuvas intensas, o Capivari libertou-se de vez e transbordou muito além da conta. Só não causou tragédia maior porque não houve perda de vida humana, felizmente.

Tem sido assim desde que me conheço por gente. Em 1970, havíamos nos mudado de Rafard para a casa de meus avós maternos, no bairro Jardim América, eu mal completara sete anos, vi as ruas encharcadas a duas quadras de onde morávamos, próximo do Juventus. Lembro-me das canoas transportando pessoas em desespero, das mudanças às pressas, das cabras sobre as mesas e animais sobre os telhados, e da repercussão que o caso teve em âmbito nacional.

Depois disso, vi outras cheias na mesma região do Juventus, do Posto Shell, da ponte da rua 15 de Novembro, mas o ponto mais preocupante mudou para o lado do bairro Moreto. Ali, em área de proteção ambiental, migrantes atraídos de seus estados para o corte de cana e pelas promessas de uma vida digna, encontraram lugar para construir barracos e casas de alvenaria de baixo custo e qualidade. Não precisavam pagar pelo terreno, ou pagavam pouco por áreas nas imediações, e passavam a residir bem perto dos centros de Capivari e de Rafard, e do leito do rio. Aos poucos, a região foi contando com serviços e equipamentos públicos, transporte, escola, creche, posto de saúde, tornando-se cada vez mais atraente, cada vez mais populosa.

Ano vai, ano vem, repetem-se as enchentes, a súbita e atabalhoada correria para abrigar os desalojados, o drama vivenciado por idosos, crianças, grávidas, arrancados de seus lares, a transferir residência para o ginásio de esportes ou para escolas municipais, a depender da generosidade e da boa vontade alheias. E tudo o que acontece é a renovação de promessas, que iterativamente caem nos esquecimento. Não há até hoje sequer um planejamento prévio de socorro para atender a uma situação sempre previsível, como cheguei a propor logo na minha primeira passagem pela edilidade local.

Parece que, nesses anos todos, as autoridades foram mesmo incapazes de pensar numa solução definitiva, sequer num paliativo de eficaz prevenção. Como no poema de Pessoa, “o rio da minha aldeia não faz pensar em nada / Quem está ao pé dele está só ao pé dele”. A cada novo governo, uma nova esperança, uma nova promessa, uma nova decepção.

Não basta construir casas para a população que se acha em área de risco, há que se planejar o que fazer para dar a essa área aproveitamento útil e, ao mesmo tempo, e sobretudo, para impedir que outras pessoas continuem a fazer dela uma opção de moradia de baixo custo. Se não houver um projeto para coibir novas construções, será inevitável, as pessoas vão ocupar o lugar, impelidas pela necessidade humana de viver sob um teto.

"Ninguém nunca pensou no que há para além / Do rio da minha aldeia", prossegue o poeta. Hoje, dizem, temos um prefeito com capacidade de raciocinar e planejar. Que desta feita ele, que está "ao pé do rio", no comando da situação, lá não esteja apenas para ver, lamentar, redigir instruções normativas, distribuir responsabilidades e prometer, mas que não perca a oportunidade de efetivamente pensar numa solução definitiva. E de executar o que há de ser feito.


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(*) Luís Antônio Albiero, 46, advogado, assessor jurídico parlamentar, ex-vereador de Capivari pelo PT (1989/92 e 2001/04). Texto publicado originalmente no blogue “Cantinho do Pensamento”, postado em 2/jan/2010 (http://luisalbiero.spaces.live.com/)