quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

VC NA GAZETA


A fórmula da juventude

Habitualmente, crianças e adultos, quando ouvem a palavra “idoso”, tendem logo a vislumbrar a imagem de uma pessoa com a saúde debilitada, com pouca disposição e já acomodada com a ordem natural da vida: nascer, crescer, envelhecer e morrer.

Mas a todos que tem esta visão pré-concebida dos idosos, o mocoquense Antonio Carlos Figueiredo, de 81 anos, que há mais de 50 anos vive Capivari, dá provas de que o acúmulo de anos de vida não é sinônimo de acomodação e indisposição para viver.

“Eu parto de uma premissa de que a velhice é a minha juventude”. E é com este pensamento, que Antonio busca, todos os dias, viver, da melhor maneira possível, está fase da vida.

“Eu tive uma juventude sadia. Não bebia, não fumava, dormia cedo. Me alimentava bem, tomava um litro de leite por dia”, revelou seu segredo para chegar aos 81 anos, ainda com fôlego de menino. “Hoje jogo voleibol da terceira idade. Faço musculação, todos os dias. Toda pessoa que pratica esportes tem uma saúde muito boa.”

Nada mais justo, depois de décadas de trabalho, do que se aposentar e aproveitar a vida. Porém, Figueiredo, que é professor aposentado, questiona a atitude daqueles que, ao invés de apenas se aposentar do trabalho, também se “aposentam da vida”. “No Brasil, você aposentou morreu. Você se torna um elemento que cai no ostracismo”, analisa.

Formado em pedagogia e educação física infantil, além de lecionar, Antonio dedicava seu tempo à outra atividade: árbitro de futebol de salão. “Apitei, durante muito tempo, futebol de salão”, lembra.

E por falar em futebol, Figueiredo revela-se um corintiano fanático. “Sou corintiano até debaixo d’água. Sou corintiano há 71 anos. Comecei a torcer, quando tinha 10 anos.” Mas, na hora de falar sobre o título da Libertadores da América, deixa todo o fanatismo de lado e analisa com frieza as chances do time: “É muito cedo para ter uma opinião formada, porque o técnico ainda não tem uma equipe pronta”.

Homem de papo fácil, “gosto muito de bater papo. Trocar ideias. Conversando você aprende muitas coisas. Procuro me comunicar com todo mundo, sem distinção de classe e religião”, ele diz não acreditar na felicidade: “Não existe felicidade. O que existe são momentos felizes”.

Adepto das novas tecnologias, ele conta: “Eu adoro a internet. Tenho mais de 20 amigos. Sempre trocamos mensagens”. Porém, demonstra um olhar crítico em relação às novas invenções do homem: “O advento da TV, das novelas e do computador são uma das principais causas do fim da família. Não existe mais dialogo entre pai, filho, irmão, irmãs. A família está acabando”, refletiu o experiente homem.

Vez ou outra, sempre se ouve falar de casos de preconceito e violência contra idosos. Na percepção de Figueiredo, pessoas que praticam estes atos não enxergam o futuro. “Hoje, apesar de termos um Estatuto do Idoso, o que não é respeitado pela maioria, existe preconceito de muitas pessoas. Mas eles se esquecem que não serão eternamente jovens.”

Com autoridade para falar sobre as voltas que a vida dá, deixa um recado para os mais jovens: “A saúde é o alicerce do ser humano. Mas, nos dias de hoje, estou assustado com a juventude. Bebem demais, fumam. Agora me pergunto, será que eles vão chegar à minha idade? Eu acho que não. O tempo passa e não volta mais. Saibam aproveitar a fase da vida que estão”.